A cartilagem do joelho é o tecido que recobre os ossos da articulação e tem a função de suportar tanto o peso do corpo quanto as forças que atuam no joelho, permitindo o deslizamento suave entre os ossos durante os movimentos do joelho.
A cartilagem do joelho é formada por cartilagem hialina, que é composta essencialmente por células chamadas condrócitos que tem a característica de receber sua nutrição por meio do líquido sinovial e não pelo sangue, oriundo de vasos sanguíneos como ocorre na maioria dos tecidos do corpo. Por essa razão, é considerada um tecido avascular, o que implica diretamente na sua cicatrização. Como a cicatrização é dependente das células do sangue, a regeneração da cartilagem é muito difícil.
As cirurgias para o tratamento das lesões da cartilagem do joelho variam conforme o tipo, o tamanho, o local, a idade do paciente e as lesões associadas ao joelho. Basicamente, pode-se dividir as lesões da cartilagem do joelho em 2 tipos: por desgaste e por trauma.
Nas lesões da cartilagem do joelho causadas por traumas, há algumas opções de técnicas cirúrgicas que podem ser utilizadas conforme a localização, o tamanho, o osso afetado, a experiência do cirurgião, as lesões associadas e a disponibilidade de materiais e tecnologia.
Confira os tipos de cirurgia no joelho para lesões da cartilagem e artrose do joelho:
1. Artroscopia
A artroscopia é a cirurgia no joelho realizada através de 2 pequenos furos na frente do joelho por onde é introduzida uma microcâmera que transmite as imagens de dentro do joelho para uma TV. Por meio da artroscopia, podem ser realizadas muitas técnicas para o tratamento das lesões da cartilagem do joelho, desde uma simples lavagem da articulação que pode ser indicada em casos de artrose em pacientes jovens às técnicas mais modernas para recuperação da cartilagem.
2. Microfraturas
Uma das opções mais simples, a técnica chamada de “microfraturas” é indicada para lesões pequenas quando a lesão atinge o osso subcondral (abaixo da cartilagem). Essa técnica é realizada por artroscopia onde a lesão da cartilagem do joelho é limpa com um aparelho chamado shaver e em seguida são realizadas microperfurações no osso subcondral que proporcionam a migração de células sanguíneas e a formação de um coágulo sanguíneo. Esse coágulo terá a função de recobrir o “buraco” da cartilagem e formará um tecido conhecido como fibrocartilagem. Contudo, a resistência deste tecido não é muito duradoura, pois não apresenta as mesmas características histológicas e bioquímicas da cartilagem original.
Na busca por resultados mais duradouros e em lesões maiores, há outros tipos de técnicas para o reparo da lesão da cartilagem do joelho.
3. Transplante osteocondral autólogo – mosaicoplastia
A técnica do transplante osteocondral autólogo, também conhecida como “mosaicoplastia”, consiste na retirada de cilindros de cartilagem e osso de uma área do próprio joelho que não recebe carga, para o transplante na área do defeito na cartilagem. Essa técnica é realizada por artroscopia ou cirurgia aberta, e o cilindro osteocondral (único ou múltiplos) é encaixado na lesão da cartilagem do joelho. A vantagem desta técnica é o reparo ser realizado com osso e cartilagem do próprio paciente, mas as desvantagens incluem o dano causado na retirada do cilindro osteocondral e a dificuldade de se preencher totalmente o defeito da cartilagem.
Hoje em dia, já é possível a realização de transplante osteocondral homólogo, ou seja, de um banco de tecidos. Para isso, é necessário um banco de tecidos humanos onde são realizados todos os testes para evitar transmissão de doenças ao paciente que recebe o transplante e os ossos e a cartilagem são armazenados. Contudo, persiste um pequeno risco de rejeição.
Além destas cirurgias, a tendência mundial atual no tratamento das lesões da cartilagem do joelho consiste no princípio de técnicas cada vez mais “biológicas”, por meio da medicina regenerativa.
4. Membrana de colágeno (condrogêse autóloga induzida por matriz)
Esta é uma das técnicas atuais que tem apresentado os resultados mais animadores no tratamento da lesão da cartilagem do joelho.
A técnica consiste na associação das microfraturas com a colocação de uma MEMBRANA DE COLÁGENO que é suturada ou colada com cola de fibrina para recobrir o defeito da cartilagem. Esta membrana de colágeno tem a função de conter as células-tronco oriundas da medula óssea do osso subcondral, propiciando um meio para o desenvolvimento, a multiplicação e a diferenciação destas células em células da cartilagem. Com isso, consegue-se um tecido muito mais próximo da cartilagem original, com mais resistência e durabilidade se comparada com a técnica isolada de microfraturas. Estudos mostram resultados com 10 anos de durabilidade da nova cartilagem com a técnica da membrana de colágeno.
Além disso, esta técnica também pode ser realizada em associação com células-tronco mesenquimais e com o transplante autólogo de condrócitos.
5. Transplante autólogo de condrócitos
O transplante autólogo de condrócitos consiste no cultivo e multiplicação das células da cartilagem (condrócitos) retiradas de pequenos fragmentos do joelho do próprio paciente que serão levados para um laboratório habilitado para esta finalidade. Após o período de algumas semanas, as células multiplicadas são transplantadas para o defeito da cartilagem do mesmo joelho, geralmente associada à membrana de colágeno. A vantagem desta técnica é o fato de serem usadas células da própria cartilagem e do próprio paciente. Contudo, são necessárias duas cirurgias (uma para retirada da cartilagem e outra para implantação) a um custo elevado. Na legislação vigente no Brasil, esta técnica só pode ser realizada em pesquisas aprovadas pelo CONEP e ou comitês de ética em pesquisa com seres humanos.
6. Células-tronco mesenquimais
As células-tronco mesenquimais são consideradas pluripotentes, ou seja, possuem a capacidade de se diferenciar em outras células do nosso corpo como, por exemplo, nas células da cartilagem.
Estudos têm demonstrado a possibilidade da regeneração da cartilagem do joelho com as células tronco mesenquimais. Estas células-tronco podem ser originadas de diversos locais do próprio paciente, como o sangue, a medula óssea, a gordura, e a membrana sinovial ou também do cordão umbilical de recém-nascidos. Estas células do cordão umbilical têm a vantagem de serem jovens e com grande capacidade de multiplicação e reparação do tecido lesionado, além do risco mínimo de rejeição.
Contudo, segundo a legislação vigente atualmente no Brasil e regulada pela ANVISA, o uso das células-tronco mesenquimais só é permitido por meio de pesquisas em Centros de Tecnologia Celular reconhecidos pela ANVISA e após a aprovação de um comitê de ética em pesquisa com humanos.
Com o avanço das pesquisas associado ao da tecnologia médica e da legislação brasileira, será possível o tratamento das lesões da cartilagem do joelho com células-tronco mesenquimais em um futuro breve, proporcionando que mais pacientes sejam beneficiados com este tratamento.
7. Osteotomia do joelho
Quando a lesão da cartilagem do joelho ocorre por desgaste de apenas um dos lados do joelho e há o desvio do eixo do membro inferior, a cirurgia que pode ser indicada é a osteotomia varizante para joelho valgo (em “X”) ou valgizante para joelho varo (em “O”).
Esta técnica é geralmente indicada em pacientes abaixo dos 60 anos e tem como objetivo diminuir a pressão no lado desgastado do joelho, aliviando a dor do paciente. Uma outra indicação frequente é a sequela da cirurgia de meniscectomia do joelho que causa dor e desvio do eixo do joelho.
Esta cirurgia pode ser associada à artroscopia do joelho para lavagem e limpeza da articulação ou para tratamento da lesão da cartilagem do joelho e também em conjunto com lesões dos meniscos e ou do LCA (ligamento cruzado anterior).
8. Prótese unicompartimental do joelho
Em pacientes com idade ao redor dos 60 anos, pode ser indicada a colocação de uma prótese unicompartimental do joelho, onde o lado acometido do joelho é substituído por um conjunto de peças metálicas e plásticas que terão a função da cartilagem.
Esta cirurgia geralmente é recomendada em pacientes com artrose do joelho que não praticam esportes ou tem sequela de lesões meniscais e meniscectomias que causaram lesões da cartilagem e do osso subcondral.
A prótese unicompartimental tem a vantagem de preservar a maior parte do joelho, inclusive os ligamentos cruzados, a articulação da patela e o lado não afetado. Assim, é uma cirurgia menos complexa que a prótese total, que proporciona uma recuperação mais rápida e apresenta bons resultados em pacientes selecionados.
9. Prótese total do joelho
Quando o desgaste da cartilagem do joelho está avançado e ocorre em toda a articulação (o chamado “osso com osso”), a cirurgia indicada é a prótese total do joelho que é o recapeamento da cartilagem desgastada com substituição por peças metálicas no fêmur e na tíbia interpostas por um plástico de alta resistência (polietileno).
Com o conhecimento e a constante evolução na qualidade e na tecnologia dos materiais da prótese, a cirurgia de prótese total do joelho é cada vez mais segura e com excelentes resultados funcionais. Quando realizada por cirurgião experiente e especialista em cirurgia do joelho, proporciona uma melhor qualidade de vida aos pacientes que sofrem com a artrose do joelho.
Em resumo, o tratamento da lesão da cartilagem do joelho é um dos maiores desafios do médico ortopedista especialista em joelho, que deve fazer o diagnóstico preciso da lesão para orientar os pacientes sobre as técnicas mais atuais e indicar a melhor cirurgia para cada caso.